Produzido com apenas 2% de material e o restante de ar, o poliestireno expandido é 100% reciclável, num processo economicamente viável

Reciclagem faz do EPS uma matéria-prima circular
Grupo Isorecort recicla o EPS oriundo da logística reversa (Foto: divulgação/ Grupo Isorecort)

Na sua linha de produção, o Grupo Isorecort faz a reciclagem do poliestireno expandido (EPS) oriundo da logística reversa, de volumes adquiridos de terceiros e das aparas dos blocos que produz. “Reciclamos as sobras de EPS não utilizadas ou resultantes de cortes, principalmente nas empresas recortadoras, que adquirem os blocos de cerca de 5 m³ e cortam nas medidas solicitadas por seus clientes”, explica Ailton Moraes, gerente Industrial do Grupo Isorecort. Nesse segmento, é natural ocorrer perda entre 7 e 10% do volume total.

A empresa também adquire sobras de poliestireno expandido coletadas nas vias públicas por cooperativas, que limpam e armazenam materiais recicláveis. Em geral, é o EPS das embalagens de linha branca e eletroeletrônicos descartado por moradores e pelo comércio de Ribeirão Pires (SP), onde está sediada a fábrica do Grupo Isorecort. “Somos avisados pela cooperativa quando há volume que justifique a retirada, em torno de 15 m³”, conta. A empresa articula, neste momento, iniciativa semelhante em outras cidades do ABC paulista e, também, parcerias com grandes magazines para recepção do EPS utilizado em embalagens dos produtos que comercializam.

As ações de logística reversa são vantajosas para os clientes e para a empresa. Os clientes eliminam o custo de enviar essas sobras para os aterros ou pagar pela caçamba. “Por se tratar de um produto volumoso, o descarte em caçamba fica oneroso”, observa.

Para o Grupo Isorecort, o processo é interessante devido à possibilidade de reincorporar o material em alguns de seus produtos, de linha de produção específica – o que é feito com muita cautela, para evitar a contaminação de matéria-prima “pura” usada nas demais linhas de produção. Em novembro de 2019, por exemplo, foram recicladas 36 toneladas de poliestireno expandido. “A meta, nesse projeto de logística reversa é, a médio prazo, abranger todos os nossos clientes”, comenta.

Processo de reciclagem

O poliestireno expandido pode ser reciclado pelos processos mecânico ou químico. O mecânico consiste na moagem do EPS que, posteriormente, é armazenado em silos. “Na produção dos blocos, o material vai sendo colocado no misturador, na proporção de 80% de matéria-prima pura e 20% do reciclado”, fala.

Muito além da mistura das pérolas de poliestireno com material triturado, o novo bloco de EPS nasce de um processo químico-físico. O gás pentano, presente no poliestireno, por ação de vapor e pressão expande as pérolas em até 50 vezes, que alcançam até 6 mm cada. É isso que explica o fato de o EPS ser constituído de 98% de ar e apenas 2% de poliestireno expandido.

“Durante a transformação das pérolas em produto final, o pentano demora algumas horas para desaparecer. Ao serem misturadas com o EPS triturado, as pérolas ainda detêm cerca de 3 a 4% de gás, que atua na fusão dos dois materiais, tornando-os homogêneos. Portanto, não há perda de propriedades no Material Reciclado (MR). O produto final mantém qualidade e resistência”, ressalta Moraes, lembrando que a diferença é sua textura mais áspera, se comparada a de um produto com insumo virgem.

“O EPS de até 12 kg/m³ dá origem ao MR. Sua densidade fica entre 9 e 10 kg/m³, muito próxima do tipo 1F. É apropriado, por exemplo, para enchimento de laje ou fôrmas utilizadas na construção civil”, explica. Ele lembra que seu custo é, em média, de 15 a 20% menor, mas mantendo as mesmas características do tipo 1F, o  que faz dele um produto bem aceito pelo mercado, principalmente da construção civil, onde pode ser empregado, também, com algum tipo de revestimento, por exemplo, argamassa.

“O EPS de até 12 kg/m³ dá origem ao MR. Sua densidade fica entre 9 e 10 kg/m³, muito próxima do tipo 1F. É apropriado, por exemplo, para enchimento de laje ou fôrmas utilizadas na construção civil”, Ailton Moraes

Proecologic recicla 600 ton/mês

Nascida em 2005, a Proecologic – empresa do Grupo Santa Luzia – é a maior no país na coleta e reciclagem de poliestireno expandido e a única a reciclar o XPS pós-consumo, EPS de baixa densidade utilizado em produtos descartáveis como copos e bandejas. A recicladora atua nos Estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Goiás e Minas Gerais, processando entre 600 e 700 ton/mês de EPS. Nesses locais, mantém máquinas de degasagem em empresas parceiras, o que viabiliza o custo do transporte. A conta é simples: um caminhão de 70 m³ transporta entre 100 e 400 kg de EPS contra 6 ton do material processado na máquina.

“Retiramos ou nos são enviadas as aparas de indústrias, inclusive do excedente da reciclagem feita pelo Grupo Isorecort, nosso parceiro. E, também, da coleta seletiva, através das cooperativas”, conta a engenheira Vanessa Villalta Lima Roman, gerente geral da unidade de reciclagem da Prolecologic no Estado de São Paulo. Depois de selecionado por critérios como qualidade, densidade e cores, o EPS é compactado. Na máquina de degasagem, ou densificação, patenteada pela Proecologic, todo o ar retido nas pérolas é retirado, reduzindo o produto em até 98% do seu volume. “Essa massa é levada para uma unidade da Santa Luzia, em Santa Catarina, para moagem e sua transformação em matéria-prima. Começa aí a fabricação de novos produtos, comercializados no Brasil e exportados. São artigos como rodapé, rodateto, materiais para a construção civil e decoração”, diz.

Ela reforça que todos os tipos de EPS são recicláveis, desde que não contenham contaminantes como gesso, terra, cola, tinta. Quando molhado ou encharcado de líquido, é inviável reciclar através do processo adotado pela Proecologic. “Procuramos não receber esses materiais e, se ocorre, descartamos em aterro específico”, conta. A empresa detém todas as licenças ambientais, da Cetesb ao Ibama, e faz parte da Fundação Ellen MacArthur, respondendo aos critérios de economia circular.

O processo de reciclagem do EPS – material 100% reciclável por conter apenas 2% de matéria-prima – é economicamente viável. Por outro lado, se deixado na natureza, ele leva de 100 a 400 anos para se decompor. Daí a importância do crescimento da reciclagem do EPS que vem ocorrendo no país. “As empresas estão cada vez mais conscientes dessa necessidade, não apenas para atender a Política Nacional de Resíduos Sólidos, mas também por estarem valorizando os recursos finitos do planeta”, observa.

“O rodapé de EPS reciclado produzido pela Santa Luzia, no futuro, será novamente reciclado, dando origem a um novo rodapé. E, assim, infinitamente”, Vanessa Villalta Lima Roman

Ela defende que é fundamental fazer do EPS uma matéria-prima circular, desde a petroquímica, onde tudo se inicia, passando pela indústria de transformação e pelo consumidor final, até a coleta seletiva, cooperativas e reciclagem, para, enfim, se tornar um novo produto. “O rodapé de EPS reciclado produzido pela Santa Luzia, no futuro, será novamente reciclado, dando origem a um novo rodapé. E, assim, infinitamente”, conclui.