Casa EPS é resultado do estudo de arquiteta sobre os painéis monolíticos
11/09/2019 - HOSANA PEDROSO

O projeto de uma residência de alto padrão, no litoral do Rio Grande do Norte, em sistema construtivo com painéis monolíticos de poliestireno expandido, exigiu rigor técnico em pesquisa e desenvolvimento, com ênfase na sustentabilidade

Em 2017, a então estudante de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), Monalisa Nogueira Barreto, se propôs a estudar as propriedades de um sistema construtivo inovador e adotá-lo no projeto da residência de clientes reais. Considerando que o sistema construtivo mais utilizado no país é a alvenaria de tijolos e estrutura em concreto armado, ela apontou, porém, ser esse um método de produção artesanal, que torna longo o prazo de execução da obra. Além disso, é ambientalmente hostil pelo uso excessivo de água e produção de resíduos. E, ainda, suscetível a patologias relacionadas à baixa padronização.

A racionalização do processo construtivo é a solução, segundo ela, para dotar a indústria da construção civil de capacidade de produtividade, de construtividade, baixo custo e desempenho ambiental. Entre os vários sistemas inovadores, como o steel frame, concreto-PVC, wood frame e pré-fabricados de concreto, a arquiteta destacou que os painéis monolíticos de poliestireno expandido (EPS) vem se fortalecendo no setor e se consolidando pela inovação, tecnologia e ecoeficiência.

DEFININDO O EPS

Em seu trabalho na UFRN, Monalisa Barreto definiu a tecnologia dos painéis monolíticos modulares pré-fabricados. São constituídos por placas feitas com telas de aço galvanizado unidas por treliças de ferro galvanizado, dispostas a cada 15 cm, e recheadas com EPS. Podem receber, no canteiro de obras, barras metálicas adicionais para sustentação extra. Os recortes necessários para colocar portas, janelas e instalações elétricas e hidráulicas são feitos rapidamente no próprio canteiro, depois que os painéis estão fixados na base – baldrame, por exemplo – e, em seguida, erguidos.

Para o acabamento, uma camada de argamassa de cimento de 4 cm de espessura é lançada, com a ajuda de uma máquina ou manualmente, que envolve a malha quadriculada de 5 x 5 cm de ferro galvanizado. O sistema de tubulações de hidráulica, esgoto e elétrica são instalados entre os painéis e a tela metálica antes da aplicação de argamassa, evitando quebra de paredes ou pisos depois de executados. O sistema de painéis monolíticos de EPS pode ser aplicado em prédios de até cinco pavimentos, para executar tanto paredes quanto coberturas inclinadas em residências, prédios comerciais, industriais e casas populares, principalmente no sul e sudeste do Brasil.

A arquiteta acrescentou informações relativas à ecoeficiência do EPS, que é justificada pela obra limpa com baixa produção de resíduos; baixa contaminação de solo, água e ar; economia de água na execução; e por ser composto de material 100% reciclável. Conferem segurança ao método aspectos como a garantia de o material possuir propriedade retardante a chama, com eficiência termoacústica inerente e resistência à agressão de agentes biológicos. Os painéis monolíticos de EPS permitem facilidade de fixar as tubulações e o transporte, por serem leves e compactos; estão disponíveis em diversas espessuras, o que assegura inovação e economia, através da racionalização da construção com redução de desperdícios de material, redução do consumo de aço, otimização do tempo da construção, elevada produtividade e serialização da construção. Os produtos finais de EPS são inodoros, não contaminam o solo, água e ar, são 100% reaproveitáveis e recicláveis e podem voltar à condição de matéria-prima.

PROJETOS ESTUDADOS

Para conhecer o desempenho, na prática, dos painéis monolíticos de EPS, a arquiteta estudou três projetos que utilizaram o sistema: Vila Maresia, Casa em Alfhaville e Casa Beto Rocha. Os dois primeiros conquistaram certificações de impacto ambiental do Green Building Council (GBC) – o outro, na época, ainda estava em fase de execução. O projeto Vila Maresia, assinado pelo arquiteto Luiz Paulo Machado de Almeida, com ajustes e projeto de interiores da arquiteta Fernanda Azevedo, foi executado em São Sebastião (SP) entre 2011 e 2014, totalmente com painéis monolíticos de EPS. A residência unifamiliar, com 1830 m² de área construída, foi a primeira a receber o selo referencial GBC Brasil Casa® do Green Building Council Brasil.

A arquiteta relatou: “A tecnologia foi empregada nas paredes e lajes e os 3.500 m² de paredes foram erguidas em apenas 8 meses. No processo construtivo, utilizou-se somente cimento CP III, que apresenta maior impermeabilidade e durabilidade. Além disso, as propriedades do cimento de baixo calor de hidratação e alta resistência à expansão auxiliaram para uma construção mais rápida. A residência possui alto desempenho de isolamento térmico e acústico, obtido através do processo construtivo com painéis de EPS, com um índice de redução acúsctica de 37 dB. O conforto abrange também questões de umidade, tendo em vista o alto desempenho de estanqueidade obtido através da tecnologia construtiva, pois o EPS é inerte por não absorver água, além de possuir propriedades antifungicidas”.

“No processo construtivo, utilizou-se somente cimento CP III, que apresenta maior impermeabilidade e durabilidade”, Monalisa Barreto

Construída no condomínio Alphaville, em Campinas (SP), em apenas 16 meses, a casa tem projeto da arquiteta Teresa D’Ávila, com revisão da arquiteta Cristina Hana Shoji e projeto paisagístico da arquiteta Renata Kassis. Tem área construída de 450 m² em terreno de 594 m². A residência se conceituou por ser a primeira da América latina a conquistar o nível Silver do selo internacional Leed for Homes (Leadership In Energy And Environmental Design), tornando-se referência para construções sustentáveis.

No quadro, abaixo, ela apresenta um resumo dos conceitos empregados nesses três cases, a avaliação dos pontos positivos e negativos de cada obra e aplicação do resultado final da pesquisa no projeto que desenvolveria em seguida.

Resumo dos precedentes arquitetônicos de estudos de caso

Projeto Vila Maresias Casa Alphaville Casa Beto Rocha
Descrição Localização Praia Urbano Urbano
Terreno 3.060 m² 594 m² 157 m²
Área Projeto 1.830 m² 450 m² 139,48 m²
Programa de Necessidades e Solução Espacial Programa Sala de estar, TV, jantar, Sala íntima, home cinema, lavabo, jardim de inverno, 11 suítes, adega, copa, cozinha, área de serviço, garagem, vestiário, tocheiro e piscina. Dependência, garagem, academia, piscina, horta, saala de estar/jantar, lavabo, home theater e cozinha, 3 suites, escritório, varanda, sala técnica Sala de estar/jantar, cozinha, lavabo, área de serviço, churrasqueira, 2 quartos, um banheiro, 1 suite e varanda
Nº de Pav. 4 3 2
Sistema estrutural e circulação vertical Fundação Sapata corrida Sapata corrida; Radiêr Radiêr
Sistema Estrutural Painéis Monolíticos de EPS; Vigas metálicas Painéis Monolíticos de EPS Painéis Monolíticos de EPS; Cintas e vigas chatas de concreto armado
Sistema construtivo, materiais e recursos Sistema de vedação Painéis monolíticos de EPS Painéis monolíticos de EPS Painéis monolíticos de EPS
Materiais e revestimentos Madeira e vidro Madeira e vidro Vidro e alumínio
Conforto do Usuário Térmico Ventilação natural cruzada; Alto desempenho de isolamento térmico; Jardim no terraço para controle de temperatura Ventilação natural cruzada; Alto desempenho de isolamento térmico Alto desempenho de isolamento térmico
Acústico Isolamento acústico
Salubridade Ausência de umidade; Águas pluviais; Peças hidráulicas com sistema de controle de vazão Ausência de umidade; Estanqueidade da tecnologia construtiva Ausência de umidade; Estanqueidade da tecnologia construtiva
Sustentabilidade Águas Armazenamento e uso de águas pluviais; Peças hidráulicas com sistema de controle de vazão Pisos drenantes; Armazanamento e uso de águas pluviais; Aproveitamento de águas cinzas
Energia Sistema de placas fotovoltaicas; Lâmpadas e aparelhos elétricos com economia de energia Produção de energia através de sistema de placas fotovoltaicas
Resíduos Reciclagem de 88% do total de resíduo gerado Utilização de materiais e revestimentos reciclados

O PROJETO DA CASA EPS

O projeto acadêmico de Monalisa Barreto foi desenvolvido para construção em terreno particular no Condomínio Bosque da Praia, em Ceará-mirim (RN). O empreendimento foi escolhido por possuir uma área de conservação ambiental e Selo Verde de construção, além de fácil acesso. O cliente real do projeto é uma família constituída pelo casal e dois filhos ainda crianças, e a casa será destinada a veraneio. A expectativa da arquiteta com o projeto e o uso da tecnologia inovadora de EPS foi que “o usuário se beneficie de residência econômica, alto desempenho em segurança, qualidade térmica e ecoeficiência que o sistema promete oferecer”.

Abaixo, o programa de necessidades:

SETOR LAZER CONVIVÊNCIA ÍNTIMO SERVIÇO
AMBIENTES Piscina Externa Living + Lavabo 1 Suíte Master Garagem
Hidromassagem Sala de Estar 3 Suítes Cozinha
Área Gourmet Sala de Jantar Varandas Indivíduais Área de serviço
Sala de Jogos Terraço Home teather Dependência

O projeto incorporou conceitos de arquitetura bioclimática, adotando requisitos da norma de desempenho térmico para edificações – NBR 15220. A qualidade do projeto foi assegurada pela conformidade ao conjunto da norma ABNT NBR 15575:2013 – Desempenho de Edificações Habitacionais. Segundo a profissional, o desenvolvimento do projeto empregou os conceitos de união e conversão. A união está relacionada à capacidade de o projeto utilizar o sistema construtivo a seu favor e unir todos os aspectos de desempenho construtivo que um sistema industrializado propõe com os princípios de habitabilidade. “A conversão está intrinsicamente ligada à capacidade autoportante da tecnologia construtiva, e surge do intuito de se beneficiar de todas as vantagens apresentadas por ela, transformando o projeto habitualmente rígido e fechado em um projeto leve e permeável”, discorreu em sua tese.

O partido arquitetônico foi alcançado com o uso de cheios e vazios e grandes beirais, em uma construção em dois pavimentos, espacialmente na forma de uma letra L, que engloba uma área de lazer interna descoberta. Os clientes ainda não iniciaram a construção, porém devem fazê-lo em breve.

POR QUE A ARQUITETA OPTOU PELO SISTEMA CONSTRUTIVO EM EPS

A arquiteta Monalisa Nogueira Barreto, hoje sócia do escritório Duas Arquitetas, em Natal (RN), optou pelo estudo dos painéis monolíticos de EPS quando buscava tecnologia construtiva industrializada, que permitisse a padronização do material e sua aplicação na obra.

“Nos anos de expansão, o mercado da construção civil não absorveu esses sistemas, mas continuou utilizando, principalmente, o convencional de alvenaria de tijolos cerâmicos e blocos de concreto. Nas pesquisas que fiz, o que mais me chamou a atenção foram os painéis monolíticos de poliestireno expandido (EPS), muito por causa da praticidade oferecida pela solução”, afirma.

Por ser um sistema construtivo completamente industrializado e que segue padrões estabelecidos em fábricas, mantem suas dimensões e propriedades térmicas. A execução da obra com os painéis não difere muito da empregada para paredes de alvenaria. “Por isso, para a comunidade local, a tecnologia seria mais facilmente absorvida devido à facilidade de implantação”, observa a arquiteta.

Projetos de arquitetura desenvolvidos a partir do conceito de padronização e modulação aproveitam a maleabilidade dos painéis de EPS, que possibilitam cortes e, até mesmo, o embutimento das instalações elétricas e hidrossanitárias. “Com a vantagem complementar de eliminar o desperdício de materiais, quando o sistema é comparado com o convencional”, observa. Monalisa Barreto ressalta que a obra da Casa EPS será realizada, inclusive já conta com o projeto executivo.

MONOPAINEL®, O MONOLÍTICO DE EPS DO GRUPO ISORECORT

Seguros, confiáveis e de alto desempenho: essas são as condições do painel monolítico desenvolvido pelo Grupo Isorecort, garantidas por ensaios laboratoriais. O Monopainel® é constituído por placa de EPS especial coberta por armadura de aço eletrosoldada (nas duas faces). Na obra, o material é revestido por argamassa estrutural. Seu uso em projetos de até dois pavimentos vai dos empreendimentos comerciais aos residenciais e, também, industriais, obras novas, ampliações e reformas. Tem total compatibilidade com outros sistemas construtivos, como concreto, aço ou madeira.

Entre as características técnicas do Monopainel®, destacam-se o conforto térmico e a leveza, além da alta resistência e da facilidade de instalação. A espessura do módulo padrão é de 8 cm de EPS e mais 3 cm de argamassa em cada lado, num total de 14 cm – medida semelhante à das paredes executadas com blocos de concreto. O Grupo Isorecort pode, ainda, produzir peças de dimensões especiais, sob projeto.

COLABORAÇÃO TÉCNICA
Monalisa Barreto

Monalisa Barreto

Arquiteta e Urbanista formada pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) e curso na Universidade Nacional del Nordeste (Argentina). Atua em áreas diversificadas de arquitetura e interiores nas esferas residencial, comercial e empresarial. É sócia-fundadora do escritório Duas Arquitetas.

Encontre

um representante